sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Ode ao fracasso do Ser.

          O trabalho do enfermo, declama o percurso da cura, do sofrimento a que é submetido o sujeito, esse é decorrente das enfermidades creditadas ao nome de moléstias da alma, das quais, o homem compreende e compromete-se numa busca de impossível porém necessária paz, onde a angustia do louco possa se aportar naquela em que se faz, em suas verdades, a realidade.
O estudo daquilo que me convence ser a mente, se firma na vista de que, faz-se necessário entender o que se diz enfermo, e muitos destes estudos compreendem a manipulação de um corpo que em sua fisiologia, manifesta “um para além do corpo”. A psicologia é fruto do saber sobre o homem que impregnado no mundo, aplica e desvela a conduta dele sobre ele mesmo, busca tratar aqueles que não são do homem a normalidade, e junto ao compromisso de tratar o necessitado, alia-se à ciência em busca do sanar da dor do corpo, e também do espírito.
Dessa urgência de curar a dor, a ciência escreve sobre linhas de gráficos estatísticos, neurotransmissores, estímulos e cognições um sujeito aparte, diferente em tese daquele pensado por Platão e Descartes, sujeito esse, sem marcas, apenas produto de soma, constituído de dados, capacidades agregadas a uma entidade que ainda humana é forjada em sua forma opaca destituído do direito ao sofrimento, conseqüência disso, do direito a uma existência. Hoje, este mesmo homem, desfeito em sua dor, medicado, modelado e devidamente programado, esqueceu-se de onde vem a origem de sua essência, essa que é ou talvez tenha sido um dia, produto de suas primeiras indagações antes mesmo que sua fala pudesse pronunciar aquilo que se arranja em sílabas, o significado das coisas.
Cabe então a denúncia a um resgate que apesar de estar sendo feito, é difamado e desacreditado de sua importância, a própria cultura da cabo de envaidecer o homem que a revelia de sua paixão, domina a razão da molécula, destratando a si como existência. Negando o pleno exercício do desejo, a sociedade chicoteia-se em marcas, essas não mais moldadas do símbolo, escritas no real do corpo, no brilho ou na doença que, deposta do seu próprio posto de mazela da alma, recebe marcas de um saber de maestria daqueles que por paixão ao homem feito do homem persistem em dar nomes ao sujeito. Esses nomes não mais convidam o homem a olhar pra si, esses nomes apenas convidam a negar o sofrer, pois o corpo do homem feito do homem, é uma máquina que sendo ela perfeita, deve manter-se estável mesmo que signifique essa normalidade uma perda da identidade.  ( MIRANDA, 2009)

Um comentário:

  1. Assim como homem, muitas vezes, não entende suas loucuras, ela, como afirma Pinel, é uma forma diferente de ser. Quem a não entende compatilha da subjetividade de que a loucura nada mais é que a perda de identidade, quando num rótulo dado apaga-se o brilho do que é ser humano.

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